O Dízimo: Entre a Lei e a Graça
Compreendendo o verdadeiro sentido bíblico do dar e da obediência
O versículo de Malaquias 3:10 é amplamente citado em sermões e campanhas financeiras nas igrejas, mas poucas vezes é interpretado dentro do seu contexto original. A famosa frase “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro” tem sido usada como uma convocação direta ao povo, quando, na verdade, a mensagem é um alerta direcionado principalmente aos sacerdotes e líderes espirituais de Israel.
O Contexto de Malaquias
O profeta Malaquias atuou em um período de decadência espiritual em Israel. O culto no Templo havia se tornado formal e corrompido. Os sacerdotes ofereciam sacrifícios defeituosos (Malaquias 1:7-8) e não instruíam o povo conforme a Lei. Assim, Deus os repreende severamente, chamando-os de responsáveis pela profanação do Seu nome.
Portanto, o texto de Malaquias 3 não é uma exortação ao povo comum, mas uma denúncia contra os líderes religiosos que estavam retendo o dízimo e negligenciando o cuidado com a casa de Deus.
O Dízimo e a Lei
No Antigo Testamento, o dízimo era uma instituição da Lei mosaica, com propósito social e religioso: sustentar os levitas, os sacerdotes e os necessitados (ver Números 18:21-26; Deuteronômio 14:28-29). Era, portanto, uma prática regulamentada pela Lei e voltada à manutenção da estrutura do culto e da comunidade de fé.
“Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento... porque ele é o mensageiro do Senhor dos Exércitos.” — Malaquias 2:7
O Dízimo e a Graça
No Novo Testamento, a ênfase se desloca do dever legal para o princípio da gratidão e voluntariedade. Jesus nunca condenou o dízimo (Mateus 23:23), mas ensinou que o essencial é a justiça, a misericórdia e a fé. O apóstolo Paulo também orienta que cada um contribua “segundo propôs no coração” (2 Coríntios 9:7).
Assim, sob a graça, o dar não é imposto, mas nasce do amor e da compreensão do que Deus já fez por nós. O dízimo deixa de ser uma exigência para se tornar um ato de adoração e reconhecimento.
Obediência e Bênçãos
Podemos concluir que a obediência a Jesus traz bênçãos, mas a interpretação dessas bênçãos é complexa. As Escrituras (como Deuteronômio 28) ensinam que seguir a Deus resulta em bênçãos espirituais e também materiais — prosperidade na cidade e no campo —, mas essas promessas estão sempre condicionadas à obediência fiel.
No contexto da graça, o dízimo é um ato de amor e gratidão, e não uma moeda de troca para obter prosperidade. As bênçãos prometidas estão ligadas à obediência e à fé, não a um valor percentual entregue.
“Cada um contribua segundo propôs no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.” — 2 Coríntios 9:7
Conclusão
O dízimo deve ser compreendido à luz da transição entre a Lei e a Graça. Sob a Lei, ele era uma obrigação; sob a Graça, é uma expressão voluntária de amor. Deus continua honrando a fidelidade e a generosidade, mas o foco agora é o coração do adorador, não a quantia ofertada.
Portanto, o verdadeiro desafio cristão é ofertar com consciência, alegria e fé — não por obrigação, mas por amor Àquele que primeiro nos amou.
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