"Entre Lutos e Lutas: A História de Aluce Elena Roberto"
A vida de Aluce Elena Roberto, uma saga de força e resiliência tecida nos rincões de São José dos Campos, onde nasceu em 1941, sob o olhar atento de seu pai, Valdomiro Roberto, e de sua mãe, Sebastiana Bizarias, cuja presença amorosa foi precocemente interrompida quando Aluce tinha apenas cinco anos, uma perda que certamente moldou sua infância e a fortaleceu desde cedo.
Sua história fincou raízes profundas na terra de Jacareí, onde passou a maior parte de sua vida e onde sua jornada realmente ganhou contornos vibrantes.
Ainda jovem, sua energia já se misturava ao ritmo da natureza, lado a lado com seu pai, no laborioso cultivo do arroz e em outras lides rurais que moldavam o bairro do Jaguari e a região circundante de Jacareí.
Tudo começou com o casamento — aquele instante solene eternizado na fotografia em preto e branco. Ela e seu ex-esposo posam lado a lado, em um momento que representa o início de uma nova jornada.
A simplicidade do vestido e a firmeza no olhar de ambos revelam os sonhos e esperanças de um tempo em que a vida estava apenas começando.
Em 1956, aos quinze anos de idade, Aluce Elena Roberto deu um passo significativo em sua vida ao unir seu destino ao de Jose Manoel Bueno.
Esse casamento precoce, para os padrões da época, selou um compromisso que duraria mais de duas décadas e frutificaria em uma família numerosa de dez filhos.
Esse evento marcou uma transição em sua vida, afastando-a do breve período em que trabalhou na fábrica Lavalpa e direcionando suas energias para a construção do seu lar e a criação de sua futura prole.
O início da vida a dois encontrou lar no acolhedor bairro de Santana, em Jacareí, marcando o primeiro de muitos endereços que testemunhariam sua jornada familiar.
Certamente acalentou em seu coração os sonhos de uma família sólida e unida.
No entanto, o tecido do destino tramou para ela uma jornada diferente, Uma nova fase se iniciou com o falecimento do sogro, um evento que a trouxe para o bairro de Santa Cruz dos Lázaros, um lar que perdurou até as ondas turbulentas do divórcio em 1985, que a lançou em uma batalha ainda mais árdua.
A inexperiência na administração dos bens conquistados a fez perder tudo, forçando-a a peregrinar por anos em lares alugados em diversos bairros de Jacareí: Parque Meia Lua, Pagador Andrade, Avarei, o burburinho do centro na Rua Campos Sales, até que, em 1998, a perseverança lhe presenteou com as paredes modestas de uma casa própria no Jardim do Vale, o último jardim que acolheu seus passos até o derradeiro suspiro.
Mas Aluce era uma guerreira! Analfabeta, sim, mas com a astúcia de quem aprende com a vida, ela não se curvou. Vendeu roupas com garra, ofereceu as cores vibrantes de frutas e legumes, sentiu a terra sob seus pés nos anos vividos na roça.
E quem conheceu Aluce , talvez não conheceu todas as fases que ela já viveu. Esta imagem, por exemplo, transmite aquele ar sereno e rústico da vida no campo
O cenário com crianças brincando, o lago ao fundo e a natureza ao redor retrata o espírito simples e feliz dos tempos antigos, onde a vida fluía devagar, com paz e conexão com a terra.
Outro retrato da generosidade de Aluce é o cuidado com os mais novos. Em uma confraternização, vemos as crianças reunidas à mesa, saboreando doces e organizando lembrancinhas.
Momentos assim refletem o quanto ela sempre valorizou a união familiar e a alegria dos pequenos algo que a seu modo sempre incentivou com muito carinho.
Cada esforço era um tijolo na construção da sobrevivência de seus filhos, um escudo contra a incerteza, complementando a pensão que recebia do ex-marido. Apesar da separação, o laço com o pai de seus filhos permaneceu único, pois nenhum outro homem ocupou seu coração.
Os anos se esvaíram, trazendo consigo a alegria dos netos e bisnetos, uma nova geração a quem dedicar seu amor.
Essa trajetória, marcada por perdas familiares tão dolorosas e desafios financeiros tão severos, possivelmente contribuiu para forjar em Aluce uma exterioridade mais resistente, talvez até um tanto dura e difícil em alguns momentos.
No entanto, como a luz que teima em romper as nuvens escuras, Aluce também possuía seus instantes de doçura, lampejos de ternura que certamente se manifestavam em seus laços familiares e em sua fé inabalável.
Sua conversão ao evangelho em 2000 parece ter sido um farol em sua vida, oferecendo conforto e força em meio às lembranças das tragédias que a acompanharam. a conversão ao evangelho, foi um porto seguro em meio às tempestades da memória.
Os anos se passaram e vieram os filhos, netos e bisnetos. A casa sempre foi cheia, repleta de risos e conversas animadas. Nesta foto, vemos parte da grande família que Aluce formou — reunida em uma sala acolhedora, com sorrisos sinceros e olhares cheios de afeto. A força de Aluce como matriarca é sentida em cada gesto de carinho ao seu redor.
O ultimo Aniversario
Em 13 de dezembro de 2021, Aluce celebrou seu último aniversário, um momento de alegria e união familiar em sua amada Jacareí.
Aluce aparece ao lado dos filhos em seu aniversário, com uma decoração alegre de girassóis — símbolo da luz e da vitalidade que ela sempre espalhou por onde passou. O bolo, os doces e os abraços mostram que sua vida foi um verdadeiro motivo de festa para todos ao seu redor.

E assim viveu Aluce, uma matriarca forjada no fogo das provações, uma mulher que amou intensamente, trabalhou incansavelmente e enfrentou a vida com uma coragem admirável em sua amada Jacareí.
Sua jornada terrena chegou ao fim em 29 de junho de 2022, quando seu coração, cansado de tanto amar e sofrer, finalmente encontrou descanso.
Mas sua história, essa, ecoa como um hino à indomável força do espírito humano, uma parte da própria história de Jacareí.
Embora a dureza da vida possa ter marcado sua personalidade, sua fé e os momentos de doçura em seus laços familiares revelam uma alma profunda. Sua trajetória, forjada na luta e na perseverança, deixa um legado poderoso de resiliência, dedicação familiar e a busca por esperança em meio à adversidade, oferecendo-nos valiosas lições sobre a capacidade de seguir adiante e encontrar significado mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Aluce, uma mulher de Jacareí, cuja história ecoa como um hino à vida, à perda e à inabalável capacidade de superação.
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